Alex Pereira Barbosa (Rio de Janeiro, 3 de janeiro de 1974), mais conhecido pelo nome artístico MV Bill, é um rapper e escritor brasileiro. Iniciou a carreira na música em 1988, quando começou a escrever sambas-enredo para seu pai, sendo que em 1993 fez sua primeira participação em um disco oficial.[1] Seu primeiro álbum foi lançado em 1999 sob o título de Traficando Informação, que contou com a faixa "Soldado do Morro", que fez MV Bill ser acusado de apologia ao crime.[2] Três anos depois, gravou o segundo trabalho, chamado Declaração de Guerra, com participações de artistas como Charlie Brown Jr. e Nega Gizza. Sua discografia ainda abrange outros dois álbuns, Falcão, O Bagulho é Doido, de 2006, e Causa e Efeito, de 2010.[3] Ainda, lançou um disco de vídeo em 2009, intitulado Despacho Urbano.
Paralelamente à carreira de rapper, MV Bill lançou em 2005, junto com Celso Athayde, o livro Cabeça de Porco. No ano seguinte, Falcão - Meninos do Tráfico, disponibilizado em livro e DVD, que tornou-se conhecido nacionalmente após exibição no programa Fantástico, da Rede Globo. O documentário conta a história de dezessete jovens que se envolveram com o tráfico de drogas, onde somente um sobreviveu. Durante as filmagens, Bill chegou a ser detido e preso por policiais.[4] Uma sequência desse material foi lançada em 2007, sob o nome Falcão - Mulheres e o Tráfico.
MV Bill também atua como ativista social, tendo criado junto com Celso Athayde a organização não-governamental Central Única das Favelas (CUFA), presente em todos os estados do Brasil. Acompanhada da CUFA, veio o Festival Hutúz e consequentemente o Prêmio Hutúz, que enquanto existiu, foi considerado o maior do gênero na América Latina.[1] Em 2009 participou das filmagens do filme Sonhos Roubados e, no ano seguinte, passou a integrar o elenco da 18ª temporada da telenovela Malhação, exibida pela Rede Globo, como o persongem Antônio.[5] Apresenta o programa Aglomerado na TV Brasil.
Anos iniciais
Alex Pereira Barbosa nasceu em 3 de janeiro de 1974 no bairro Cidade de Deus, localizado na cidade do Rio de Janeiro, onde reside até hoje. Seus pais são Mano Juca, que exerce a profissão de bombeiro, e Dona Cristina, dona-de-casa.[1] Ganhou o apelido de "Bill" logo aos oito anos de idade, em referência a um rato que vinha nas figurinhas de chiclete da Copa do Mundo FIFA de 1982. Já a alcunha MV apareceu mais tarde, em 1991, quando senhoras evangélicas da Cidade de Deus o rotularam por "Mensageiro da Verdade", pelo modo como transmitia a realidade das favelas.[2]
Seu primeiro contato com o hip hop ocorreu até o 1984, através da breakdance e do Miami Bass. Mas, efetivamente, essa relação teve início em 1988, quando assistiu ao filme As Cores da Violência e leu a tradução de algumas canções presentes na trilha sonora do mesmo. A partir daí, começou a formular músicas, mas como o que predominava no seu bairro era o samba-enredo, ele cantava junto com o seu pai em uma escola de samba.[1]
Em 1993, participou da coletânea musical Tiro Inicial, de diversos estilos de música, a qual revelou Gabriel o Pensador. Foi a partir desse ano que MV Bill decidiu seguir a carreira de rapper.[1]
1998-2000: Primeiras canções e Traficando Informação
Em 1998, MV Bill lançou o disco CDD Mandando Fechado, pela gravadora Zâmbia Fonográfica, com músicas que contam a realidade do bairro em que mora, mas com o nome das pessoas alterados para preservar as respectivas identidades.[6] Um ano depois, este álbum foi remasterizado com a adição de três novas faixas e relançado pela Natasha Records com o título Traficando Informação.[7] O disco, que contou com a produção de Ice Blue, integrante dos Racionais MC's, teve a participação especial de KL Jay, DJ Will, PMC e sua irmã Kmila CDD. As três faixas inéditas são "De Homem pra Homem", "Sem Esquecer as Favelas" e "Soldado do Morro".[1]
Ainda em 1999, MV Bill lançou seu primeiro videoclipe, "Traficando Informação", através da Conspiração Filmes.[8] Participou do Free Jazz Festival como um dos únicos artistas de rap, onde polemizou ao apresentar-se com uma arma na cintura, que mais tarde afirmou ser de brinquedo.[9][2] Uma das suas mais famosas atitudes está o fato de só dar entrevistas na Cidade de Deus. Ficou ainda mais conhecido em 2000, ao estrelar uma campanha publicitária de televisão contra o vandalismo em telefones públicos.[2] Em 2000, foi indicado ao Video Music Brasil com a canção "A Noite", mas acabou sendo derrotado por "Us Mano e as Mina", de Xis.[1]
Em dezembro de 2000, o rapper lançou o videoclipe de "Soldado do Morro", onde também retrata o trabalho dos traficantes no bairro. Foi acusado de apologia ao crime por usar um fuzil em todo o videoclipe e recebeu represálias negativas de algumas personalidades da música.[10] Em contraponto, Caetano Veloso, Djavan e Gilberto Gil se posicionaram a favor de MV.[8] O videoclipe foi premiado no Prêmio Hutúz - o maior do gênero na América Latina - como "Melhor Videoclipe do Ano" e no tradicional Video Music Brasil 2001, da MTV, como "Melhor Videoclipe de Rap".[1]
2000-2005: Declaração de Guerra e estreia como escritor
No ano seguinte, lançou seu segundo álbum oficial, através da Natasha Records e da BMG, chamado Declaração de Guerra, que basicamente trata sobre os mesmos assuntos de Traficando Informação. Conforme explicado pelo artista, a declaração de guerra é em favor dos excluídos e contra o preconceito ao negro.[11] O disco traz participações de Charlie Brown Jr., Buiú da Doze, Kmila CDD, Nega Gizza, e de seu pai. Neste trabalho, MV Bill utilizou uma expansão do rap, com outros estilos musicais, como o samba rock e a MPB. Entre os destaques estão "Dizem que Sou Louco", "Só Deus Pode me Julgar" e "Soldado Morto".[1]
Em abril de 2005, MV Bill iniciou também sua carreira de escritor, lançando junto com o produtor Celso Athayde o livro Cabeça de Porco, que foi co-escrito por Celso Athayde e Luiz Eduardo Soares e lançado pela Editora Objetiva.[12] Ele trata da entrada rápida dos jovens da periferia no mundo do crime e utiliza dados de pesquisas etnográficas, entrevistas e filmagens.[1]
2006-2007: Falcão - Meninos do Tráfico e Falcão, o Bagulho é Doido
Em 2006, Bill lançou junto com Athayde o famoso livro e documentário Falcão - Meninos do Tráfico, que conta a história de dezessete meninos envolvidos com o tráfico de drogas em diferentes favelas, sendo que somente um deles sobreviveu.[13] A partir do dia 19 de março de 2006, o documentário começou a ser exibido no programa Fantástico da Rede Globo.[14] A primeira transmissão teve cerca de 58 minutos, correspondendo a cerca de metade do tempo do programa. Este foi um fato inédito desde 1973, quando foi a última vez que o Fantástico exibiu um documentário de produção independente.[15] Também foi citado na Globo News e na TV Câmara na mesma semana. Por causa disto, o então presidente do Brasil Luiz Inácio Lula da Silva convidou MV Bill para uma audiência particular no Palácio do Planalto, onde foi presenteado com o DVD e o livro.[1] O filme recebeu o Prêmio Rei, da Espanha.[16]
Meninos do Tráfico resultou no terceiro álbum de estúdio de MV Bill, chamado Falcão, O Bagulho é Doido, lançado no mesmo ano pela Universal Records.[17] Como uma trilha sonora do documentário, O Bagulho é Doido traz a mesma ideologia apresentada nos outros trabalhos.[1] Caetano Veloso fez uma participação em "Língua de Tamanduá", que foi o destaque junto com "O Bagulho é Doido", "Estilo Vagabundo" (com Kmila CDD) e "Preto em Movimento".[2]
Em julho de 2007, marcou presença em outro festival contendo música brasileira em prol da preservação ambiental, o Live Earth, realizado na Praia de Copacabana.[18] No mesmo ano, lançou o terceiro livro de sua carreira, chamado Falcão - Mulheres e o Tráfico, onde explana a mesma condição do documentário anterior, mas com as mulheres que fazem parte do tráfico.[19]
2008-presente: Despacho Urbano e Causa e Efeito
Em 2008, MV Bill estreou o programa "A Voz das Periferias", na rádio Roquette Pinto 94.1 FM.[20] Em 2009, é lançado o primeiro DVD da carreira de MV Bill. Lançado pela gravadora independente Chapa Preta, Despacho Urbano contém dez faixas de sucesso, onze videoclipes e cinco extras, onde são incluídos depoimentos e ensaios.[21] Este DVD fez MV Bill ser indicado novamente ao Video Music Brasil, onde foi escolhido o "Destaque no Rap" de 2009.[22] Na última edição do Prêmio Hutúz, que foi idealizado pela Central Única das Favelas, criada pelo próprio MV, o rapper foi escolhido como um dos "Melhores grupos ou artistas solo da década" e Declaração de Guerra como "Melhores álbuns da década".[23]
Sem lançamentos inéditos desde 2006, MV Bill voltou com a música "O Bonde não Para" em 2009, juntamente com sua irmã Kmila CDD, o qual foi acompanhado de um videoclipe dirigido pelo próprio artista.[24] Em abril de 2010, após uma espera de cerca de um ano pelo público foi lançado pela Universal Music junto com a Chapa Preta, o álbum Causa e Efeito, onde MV apresenta um rap menos "agressivo", mas sem deixar de apresentar o conteúdo nas letras que o deixaram conhecido nacionalmente.[25] Causa e Efeito contou com a participação de Chuck D, vocalista do aclamado Public Enemy e Chorão, do Charlie Brown Jr.. O álbum é vendido nos concertos ao preço de R$ 5.[26]
Além de "O Bonde não Para", a canção "Corrente" também ganhou um videoclipe, que foi feito em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, novamente com sua irmã Kmila.[27] O álbum e os videoclipes fizeram Bill vencer pela segunda vez consecutiva a categoria "Destaque no Rap", no Video Music Brasil 2010.[28] Em agosto do mesmo ano, teria sido confirmado que Bill iria fazer parte da trilha sonora do filme Velozes e Furiosos 5,[29] fato que foi desmentido pelo mesmo no mês seguinte.[30] Em 2011 fez participações no disco do Emicida intitulado Doozicabraba e a Revolução Silenciosa que foi produzido pelos norte-americanos do K-Salaam e pelo Beatnick.
Outras atividades
Além da carreira de rapper e escritor, MV Bill também participou de outros projetos. O mais conhecido deles é como ativista social, quando criou junto com Celso Athayde e Nega Gizza em 1999 a Central Única das Favelas (CUFA), que está distribuída em todos os estados do Brasil.[31] Acompanhado a CUFA, veio o Prêmio Hutúz, considerado o maior da América Latina e que teve dez edições entre 2000 e 2009. O Prêmio Hutúz faz parte de um festival que sempre teve sua abertura em 4 de novembro, o Dia da Favela, e contava com shows, batalhas de MCs, exposição de pinturas, oficinas e outras atividades.[32] Além disso, a CUFA organiza outros projetos, como competições desportivas, de dança e grafite, rádios comunitárias e exibição de filmes.[33]
Um dos primeiros projetos de MV Bill foi a participação na criação do partido político PPPOMAR (Partido Popular Poder Para A Maioria).[34] No entanto, ele não está em atividade devido à falta de candidatos para disputar determinado cargo.[35] Junto com Nega Gizza, organiza o "Efeito Cufa", que em 2004 lançou uma coletânea com dois discos.[36][37]
Por causa do seu trabalho na área de desenvolvimento social junto a Juventude, o rapper recebeu o prêmio de Destaque da Unicef de 2004.[38] Juntamente a isto, foi escolhido como uma das 10 pessoas mais militantes do mundo pela UNESCO, em uma premiação realizada em Miami, nos Estados Unidos.[8]
MV Bill sempre teve um posicionamento relativamente aberto à mídia em comparação a outros artistas do hip hop alternativo, tendo sido entrevistado por diversas emissoras e revistas, inclusive a Playboy, de maio de 2006.[39] Além de participar com o documentário Meninos do Tráfico no programa Fantástico, ele também marcou presença na emissora Rede Globo nos programas Faustão[40] e Altas Horas.[41] O cantor popular brasileiro Caetano Veloso cogitou a indicação do rapper para o Senado e a Presidência do país.[42]
Em 2009, MV Bill iniciou a gravação do filme Sonhos Roubados - concluída no segundo semestre do mesmo ano[43] - que contou a realidade de três meninas da periferia carioca. O rapper viveu o papel de um ex-presidiário chamado Ricardo.[44] Além disso, fez uma participação em um comercial da empresa Nextel, que foi gravado na Cidade de Deus e se chamou "O Bem não tem Limites".[45] No início do segundo semestre de 2010, Bill decidiu entrar no elenco da novela Malhação, onde interpreta Antonio, um pai viúvo de uma adolescente grávida, que vive na periferia.[46] Por falar em trechos de músicas como Novela das 6, novela das 7, novela das 8, Malhação Se soubesse como é bom ser original, de "Pare de Babar", o rapper foi alvo de diversas críticas, as quais respondeu com: Há uma mudança no comportamento da direção do programa.[47]
Controvérsias
MV Bill se envolveu em uma polêmica com os jornalistas da Revista Veja em 2009. Tudo começou quando a empresa R.A. Brandão Produções Artísticas, a quem pertencem os direitos autorais do livro Falcão - Mulheres e o Tráfico, foi contratada para serviços terceirizados pela Petrobrás. O jornalista Diogo Mainardi divulgou em uma postagem no seu blog intitulado "O hip hop da Petrobrás" que isto se tratava de uma "falcatrua" e que a empresa teria ganhado mais de 4.5 milhões de reais através de 53 contratos.[48] Desde então, o jornalista passou a ironizar Bill em todas as mensagens, utilizando ironicamente por várias vezes o termo "mano".[49] Um tempo depois, a Veja voltou com os ataques através do conhecido jornalista Reinaldo Azevedo, que continuou com difamações em pelo menos sete postagens, que renderam diversos comentários, tanto positivos como negativos.[50] A defesa de MV Bill esteve presente em uma reportagem de nome "O hip hop é compromisso" e foi publicado em O Globo.[51]
A terceira canção de seu álbum Falcão, O Bagulho é Doido, chamada "Falso Profeta (Para de Caô)" é supostamente dirigida a Pregador Luo, vocalista do Apocalipse 16, que havia lançado "Falso MC" no álbum D'Alma de 2005.[52] "Falso Profeta" contém trechos como "Para de caô, incriminar o crédulo de alguém é tão grave como renegar a cor/Para de caô, se seu coração tá cheio de ódio não me venha pra falar de amor".[53]
Via Wikipedia
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